Ato enganoso, cruel e atroz,
Por querer fechar minhas feridas
E aquietar a mente ensandecida,
Calou por fim a minha voz.
Mas nem o frio da madrugada,
Tampouco a bruma da noite
Puderam livrar-me do acoite
De criaturas vis, desregradas...
Ensandecido, gritava: Onde estou?
Onde está o sossego da morte
Que busquei como uma sorte?
É este o suplício que me restou?
Vagava a esmo, sem direção,
Querendo enfim me livrar
Daquela loucura a me torturar,
E a retalhar o meu coração...
É mesmo impossível imaginar
Quanto tempo eu assim vaguei;
E por muito que sofri e chorei,
Alguém acabou por me abraçar.
Não sei bem o que aconteceu,
Pois apenas pude divisar
Suave luz que, a dançar,
Um leito alvo entreteceu...
Seres luminosos à minha volta,
Deitaram-me de mansinho
Carregaram-me com carinho,
Formando uma doce escolta.
Pela graça do Todo Poderoso
Fui recolhido a um hospital,
Onde minhas seqüelas do mal
Receberam remédio miraculoso.
E hoje, finalmente refeito,
Minha consciência está a cobrar
A necessidade de reencarnar,
Mas esperança já trago no peito.
Quero agora poder me redimir,
Esquecer o meu negro passado
Deixar todo o orgulho de lado,
E com meu amor, todos cobrir!